Não há no mundo quem não tenha inclinação para o exagero. Não há quem viva em pleno equilíbrio. Alcançamos tudo parcialmente. Se a paz fosse sempiterna, não conheceríamos o rosto azedo da guerra. Nem mesmo a palavra existiria. A gente se importa com o bem, porque alguém resolveu dicionarizar o mal e todos os outros males. A gente se preocupa em atestar e descrever tudo de bom e de mau na vida, nunca parámos para entender a loucura do «querer entender». Costuma se dizer que «querer é poder», pois, então, eu ouso em dizer que não. Nunca vi ninguém mudar porque quis. Nunca vi um desrregrado deixar de o ser porque quis. Não, querer não é poder. As pessoas mudam quando a mudança vale por si mesma. Quando não há tempo de escolha. Quando a alma errante se vê obrigada. Pequenas frases da internet, livros de auto(-)ajuda, conselhos óbvios, isto e aquilo alimentam o querer. Reformulo o dito a meu jeito: «querer é iludir-se». Isso nos mantém vivos. A realidade é [e sempre foi]