Era noite de Cacimbo, mas não uma noite qualquer. Havia um frescor diferente naquela noite. Era uma noite masturbativa. Samuel chegou a casa repleto de sorrisos, pois o relógio biológico profetizara aquele momento: as primeiras horas de uma curta folga.
As paredes exalavam solidão, as mobílias gritavam no silêncio do desuso, excepto a cama. A cama sempre teve utilidade, contudo a felicidade dela, naquele instante, ia além de qualquer perspectiva utilitarista. Não seria apenas um leito, seria parte de uma fantasia sexual.
Cada movimento tinha de ser calculado. A delicadeza mantinha a libido em alta. Não mais a grotesca e primata forma de segurar o pênis, a mentalidade ocidental não permitia. O contacto peniano começava com o reavivamento da memória. Sim, uma memória que trouxesse a presença de um vulto feminino de cara angelical, seios aveludados e bunda generosa — um espírito felino e totalmente virgem.
A conexão paradisíaca foi interrompida por um inevitável contra-argumento: o sabonete não espumava.
— O que se passa com este sabonete? Nem se decompõe, nem espuma.
Voltou-se, entretanto, para o pacote à procura de alguma informação acerca do uso. Não havia nenhuma. Apenas uma adenda:
“CERTIFIQUE-SE QUE TEM UM ÓRGÃO GENITAL COM TAMANHO SUPERIOR A 11 cm, POIS O PRODUTO EXIGE UM VALOR ACRESCENTADO PARA FUNCIONAR”.
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