Nove meses depois, lá estava aquela nova e minúscula criatura com feições humanas e futuro indecifrável. Talvez seja alguém importante; mas, como a luta para ser-se alguém é demasiado agressiva, é mais provável que seja só mais um diabrete frustrado.
O parto foi um pesadelo. Maria estava extenuada, se não fosse pela pressão familiar, teria abortado. E o pai? Bem, havia um homem do outro lado da vidraça a quem se atribuira a paternidade. José bradava de alegria ao ver o filho. Ou é melhor dizer enteado? De qualquer jeito, ele não sabe. «Privar um homem de uma verdade trágica é assegurar a sua felicidade», pensava Maria.
— Que filho lindo, tu me deste, amor! — disse José emocionado à mulher. Maria desenhou um sorriso forçado, enquanto lhe lia as convulsões do rosto. José acreditava piamente que a parceira lhe era fiel; nem mesmo depois do casamento, cogitara a hipótese de ela já não ser virgem. Uma hipótese inexistente quando o mínimo de experiência sexual se resume à púbere fricção peniana: punheta.
— Olha só o meu netinho! Não há dúvidas, este é nosso — afirmou a sogra de Maria. — Parece-se tanto com o meu anjo Gabriel...o teu pai tem de ver isso, é a cara chapada dele. Ele profetizou isso o tempo todo. Dizia-me sempre que o primeiro neto sairia a sua imagem e semelhança.
— Vê, meu Amor. Talvez seja o seu irmão mais novo — ironizou Maria. Puseram-se todos a rir. É Dezembro, mês de festa e alegria.
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