Não há no mundo quem não tenha inclinação para o exagero. Não há quem viva em pleno equilíbrio. Alcançamos tudo parcialmente. Se a paz fosse sempiterna, não conheceríamos o rosto azedo da guerra. Nem mesmo a palavra existiria. A gente se importa com o bem, porque alguém resolveu dicionarizar o mal e todos os outros males. A gente se preocupa em atestar e descrever tudo de bom e de mau na vida, nunca parámos para entender a loucura do «querer entender».
Costuma se dizer que «querer é poder», pois, então, eu ouso em dizer que não. Nunca vi ninguém mudar porque quis. Nunca vi um desrregrado deixar de o ser porque quis. Não, querer não é poder. As pessoas mudam quando a mudança vale por si mesma. Quando não há tempo de escolha. Quando a alma errante se vê obrigada.
Pequenas frases da internet, livros de auto(-)ajuda, conselhos óbvios, isto e aquilo alimentam o querer. Reformulo o dito a meu jeito: «querer é iludir-se». Isso nos mantém vivos. A realidade é [e sempre foi] uma desilusão. Precisamos da utopia para perspectivar um amanhã melhor. O amanhã não existe, apenas mais da mesma utopia.
Dias melhores brotam, quando não há tempo para pensar. Quando não se trata de querer, mas sim de um «deves ou deves». Atraímos as coisas boas quando não temos como e porquê as repelir.
Não estou a mostrar ao leitor o ponto de vista epicurista, em que toda busca é comedida, nem o hedonista, em que toda busca é desenfreada. Estou somente a dizer que, para tudo que envolve escolha e vontade, há um contratempo. Compreender isso é importante. Depois de muito falhar, a mudança surge de forma surpreendente.
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