Dizia o fundador da ciência moderna, Francis Bacon (1561–1621), “o conhecimento é poder”. Na visão do filósofo londrino, o saber serve para restituir ao homem o poder sobre a natureza, com o fito de instaurar o império dos homens (imperium hominis) e demolir a herança 'arcaica' dos clássicos gregos, sobretudo, Platão e Aristóteles.
Decerto, concordaria o leitor, que o conhecimento é mais importante na vida do ser que se enfada do senso colectivo; porque, ao libertar-se da tradição metodológica, reinventa a fórmula social. Parece simples e bonito. Há, contudo, pormenores que mudam o curso da caminhada.
Decerto, concordaria o leitor, que o conhecimento é mais importante na vida do ser que se enfada do senso colectivo; porque, ao libertar-se da tradição metodológica, reinventa a fórmula social. Parece simples e bonito. Há, contudo, pormenores que mudam o curso da caminhada.
O saber pode servir para apoiar ideias ambíguas. Platão apoiava a educação do mesmo modo que desaprovava a vida familiar. Aristóteles defendia a eudaimonia [felicidade] ao passo que concordava com a escravidão.
O saber pode servir para justificar o preconceito. Hegel foi peremptório a descrever a dialéctica histórica com base no “espírito” [razão], mas considerava África um continente sem história.
O saber pode inflamar paixões. Nzinga Nkuvu converteu-se, cristãmente, em D. João I, enquanto se esquecia de defender o povo. O saber pode viciar o julgamento. Bula Matadi mobilizou um motim, na esperança de derrotar o colono a pedradas – sem desprimor nenhum à nossa história.
Na tradição judaico-cristã, o sábio Rei Salomão equipara a sabedoria com a vaidade e resume-as em “aflição do espírito” e “esforços para alcançar o vento”. Ver o homem mais sábio de toda Jerusalém reduzir todo o seu saber e fartura de bens a nada é prova de que o niilismo existencial ou a infelicidade não termina com a estabilidade nem com o poder. Nada termina. Diria Lavoisier, “tudo se transforma”.
Quanto mais se sabe, menos certezas se tem. Em contraponto a isso, a ignorância é a certeza de tudo. Pela via do conhecimento, há o risco do erro, do trauma e da incerteza características ao homem que migra para uma terra insular. Pela via da ignorância, há o privilégio da felicidade plena, a certeza de tudo e a vida social que autojustifica toda lacuna.
Excelente reflexão, muito importante para dias em que, no Brasil, o conhecimento tem sido atacado, perseguido negligenciado. Cientistas subestimados por "eu acho"...e prosseguimos caminhando para 100 mil mortos por Covid... enquanto alguns dizem ser a cloroquina eficiente quando nada cientificamente se prova...e corre a ciência em busca da vacina....inacreditável isso em tempos contemporâneos...negligenciar a importância do conhecimento.
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