Sim, agora, está na moda. É moda criticar, então me deixem criticar. O advento da tão indesejada crise gerou uma massa de inconformados em todos os pontos do País, — escrevo com inicial maiúscula para que os chauvinistas não me critiquem por falta de patriotismo — esta é a pura verdade ou, pelo menos, parte dela.
Todo cidadão, nesta fase, é um analista mordaz, altamente formado por um ideal qualquer. Nos táxis, nos bares, nas praças e, para os que gostam das gajas da rua, até na «Monique», há sempre um miserabilista.
Os pessimistas são uma infestação para a sociedade; eles falham e inventam uma desculpa para não voltar a tentar. A conjuntura actual, porém, torna válidos todos os discursos indecorosos. Eu não fui ao trabalho, é a crise; não fiz isso, é a crise; não posso, é a crise.
A nossa preguiça é filosófica. Trocamos a capacidade de produção por mesas-redondas. As crianças não tiveram nenhuma escapatória. As nossas pequenas críticas falam de tudo relativo à crise. Já cheguei a pensar numa associação «15+2» infantil. Valha-me Deus. Toda gente anda informada. A difusão da informação tem sido, esmagadoramente , impressionante.
Ouvi, por alto, que, muitas vezes, algumas matérias jornalísticas, antes mesmo de terem este cariz, eram somente fofocas de redacção. Já não há fontes fidedignas. É a crise. Ela ficou famosa muito rápido. Anunciou-se de cima, mas só visita os de baixo. É elitista. Nunca ninguém a viu, apenas se consegue sentir a sua presença, como sinto neste exacto momento. O que mais devo escrever. Já não me dá nada na telha. Fica assim. É a crise.
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